O Pássaro de Fogo e outros contos de fadas russos – resenha
Salve, salve, seres humanos da terra.
Hoje é dia de resenha de livro e eu quero falar de um belo e estranho achado em uma banquinha dessas da vida. Então vamos nessa com O Pássaro de Fogo e outros contos de fadas russos.
Existe uma frase clássica no mundo dos escritores (e ninguém sabe bem quem disse isso) que é a seguinte:
“Escreva com Vinho. Revise com Café”
Mas esse livro é russo, e a sensação que ele deixa é que os russos escrevem bebendo vodka, e não revisam coisa nenhuma. Ou revisam tomando vodka também. Porque essas histórias são completamente biruta das ideias.
O Pássaro de Fogo e outros contos de fadas russos:
O livro é um compilado, traduzido e adaptado por Adriana Moura e Paulo Bezzutti, que conta com 10 contos dos mais diversos. Eles fizeram um trabalho de pesquisa para encontrar contos e fazer a curadoria de alguns que abordassem os temas principais. Além disso, dentro de cada conto, eles pegaram elementos principais de diferentes versões para fechar uma versão única.
Não vou comentar conto por conto, mas vou trazer alguns pontos altos e algumas observações gerais.
Burrice:
Eu entendo que muito desses contos são “cautionary”, contos para alertar sobre perigos, tipo desobedecer os pais e coisas do tipo. Então os personagens precisam fazer alguma besteira para se dar mal. Mas em muitos desses 10 contos, a burrice galopante é um elemento central.
Na história do Pássaro de Fogo, o garoto é instruído a pegar o pássaro e não tocar na gaiola. Ele pega a gaiola e dá merda. Depois ele é instruído a pegar o cavalo e mais nada. Ele pega uma cela de ouro e dá merda de novo. O plano só dá certo porque o lobo fica puto e resolve a terceira tarefa sozinho. Inclusive o lobo é muito mais interessante que o tal Pássaro de Fogo.
Em Baba Yaga e o garoto corajoso, o moleque só precisa ficar quieto para evitar a Baba Yaga, mas o pequeno quadrupede reclama que ela está mexendo em sua colher e acaba sendo capturado…. TRÊS VEZES! Depois disso o garoto vira um gênio e consegue aplicar um golpe nas filhas da Baba Yaga que são ainda mais burras. O golpe consiste em se mexer na bandeja até que a anta filha em questão se disponha a entrar na bandeja para mostrar como é. AS TRÊS FILHAS da Baba Yaga caem no mesmo truque.
Em Alyonushka e Ivanushka, que são dois irmãos, a menina instrui o irmão a não beber água do casco de um bode, porque ele vai virar um cabrito. Advinha o que o jovem idiota Ivanushka faz em seguida? Isso mesmo, bebe a água e vira um cabrito.
Animais fantásticos: onde habitam? Na Russia, é claro.
Uma coisa frequente é que os animais são incríveis e super poderosos nesses contos. Muito melhores que os animais que ajudam a Branca de Neve a limpar a casa. Na verdade aqui nos contos de fadas russos, nem tem fadas, os animais que são os ajudantes mágicos misteriosos e com poderes ilimitados.
Então se estiver na Russia, trate bem os animais. Pode ser um animal místico super poderoso.
Em O Pescador e o Peixe, o pescador salva o peixe e começa a realizar todos os desejos dele (como um gênio). Mas o pescador usa os desejos para a esposa mesquinha.
Em o Czar Saltan, seu filho é ajudado por um Cisne falante que também pode realizar os desejos mais absurdos e complexos, dando um reino pra ele de bobeira. E no fim o cisne ainda é uma princesa que se casa com o guri. De bobeira.
Em Baba Yaga e o garoto corajoso, o garoto recebe criação de um gato e de um pardal, que o salvam da Baba Yaga duas vezes.
Em a Baba Yaga e a Órfã, Tanyiusha dá um presunto para o gato da bruxa e ele começa a ajudá-la. Ele dá a ela um pente e uma colcha e instrui ela de como usar. Felizmente Tanyiusha é uma das poucas personagens que sabe seguir instruções, o que gera essa lindíssima (e completamente louca) cena.
“[…] Então Tanyusha colocou o ouvido no chão e percebeu que Baba Yaga estava chegando perto. Atirou a colcha no chão, e este se transformou em um rio largo e caudaloso, que a Baba Yaga não conseguia atravessar.
A feiticeira voltou com dois bois, que beberam o rio até que ficasse seco, e recomeçou a caçada. Dessa vez, Tanyiusha atirou o pente, que se tornou uma floresta densa, tão densa que nem os dentes de ferro da Baba Yaga podiam mastigar. Derrotada, a bruxa desistiu e voltou para a sua isbá”
Em Finist, o falcão. Maria consegue uma pena mágica que chama o lendário falcão Finist, que vira um príncipe. Depois ele sofre um ferimento e ela precisa fazer uma jornada para reencontrá-lo.
Na Princesa Sapo, o príncipe Ivan se casa com um sapo fêmea falante. Logo ele descobre que ela cria coisas mágicas durante a noite e é, na verdade, uma princesa amaldiçoada. Depois ele a perde e para salvá-la ele acaba usando ajuda de mais quatro animais falantes.
E em o Pássaro de Fogo, o tal do pássaro é só bonito mesmo. Mas o Lobo que ajuda o imbecil do Ivan resolve tudo sozinho. Ele fala, sabe onde as coisas estão, instrui Ivan (que é um imbecil e não segue as instruções) e até ressuscita o garoto, que estava todo despedaçado.
Baba Yaga:
Baba Yaga é uma bruxa clássica da mitologia russa e ela aparece em vários contos. Mas com algumas características peculiares que divergem em diferentes histórias.
Tem a Baba Yaga do mal que conta colheres, sequestra crianças para cozinhar e tem três filhas. As filhas são bem burras. Tem também a Baba Yaga que persegue a Tanyiusha e tem um par de bois que bebem um rio (lindo) tem dentes de ferro.
Na Princesa Sapo a Baba Yaga não é má. Ela informa o príncipe Ivan sobre como matar Koschei, o Imortal.
E a história mais diferente é a da pena do falcão Finist. Depois que o Falcão sofre ferimentos, Maria precisa ir até o último reino (seja lá o que significa) e no meio do caminho ela passa por 3 Baba Yaga. Cada uma dá um presente diferente para ela.
Maria tinha gastado o terceiro par de sapatos de ferro quando chegou à terceira istá e encontrou a terceira Baba Yaga, tão antiga quanto às árvores.
Então temos 2 Baba Yaga do mal (uma tem 3 filhas), 1 que dá informação, mas não se envolve muito e mais 3 que ajudam Maria. São muitas variações.
O Número 3:
O Número 3 aparece o tempo todo. Três príncipes, 3 filhas, 3 Baba Yagas, 3 colheres, 3 presentes, 3 sapatos de ferro e mais várias coisas que se repetem 3 vezes.
Acontece o tempo todo. Acho que em todos os contos.
Inverno:
Em dois dos contos, o inverno é um elemento central, mas aparece de forma antropomorfizada.
Em Morozho, o Velho Inverno, Anastácia é deixada na floresta para morrer de frio. Mas quando o Inverno vem abraçá-la, ela o trata bem e ele começa a protegê-la e a trazer presentes.
E em Snegurochka, a donzela da neve, Snegurochka é a neve, filha de Pai Inverno e Mãe Primavera. Não vou contar como é o final dela, mas tem a ver com o deus Sol.
O que eu achei de O Pássaro de Fogo e outros contos de fadas russos?
Esse livro é genial. É uma experiência fantástica ter contato com contos de fadas de uma cultura que não temos tanto contato. É bem divetido.
Mas as histórias são simplesmente sem pé nem cabeça. As coisas simplesmente acontecem do nada, sem nenhuma explicação e é tudo incrivelmente surpreendente. As soluções vêm do nada e nada precisa explicação. Colchas viram rios. Águas da vida e da morte podem ressuscitar pessoas. Se beber água do casco do bode, você vira um cabrito. Um pai deixa a filha para morrer porque a esposa mandou. Isso fora as extravagâncias dos czares.
É tudo muito doido e sem explicação. Chega a ser mágico se você ler com muuuuuuita boa vontade. É legal.
Em resumo. Recomendo porque é diferentão.
Então é isso. Resenha gigante de um livro doideira. Deu trabalho, mas adorei.
E você, o que acha?
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Um abraço.
E tchau.
1 Resultado
[…] muito à respeito. Hilda encontra um monte cercado por amuletos e acaba indo parar no reino das fadas. Mas ela volta e a história continua. Parece que Johanna tem alguma história com as fadas, mas […]