A Tessalíada (Sandman Apresenta) – resenha
Salve, salve, seres humanos da terra.
Hoje é dia de falar de quadrinhos e eu trouxe um gibizinho da Vertigo que eu reli por motivos obscuros. É uma minissérie fechadinha de 4 edições, então vai ser de boa de falar. Dito isso, então vamos logo falar de Sandman Apresenta: A Tessalíada.
Eu não tenho certeza, mas essa série Sandman Apresenta era tipo um selo de publicações dentro da Vertigo para qualquer coisa que tenha surgido em Sandman, do Neil Gaiman. A ideia de Sandman era dar uma amarrada no universo místico da DC, então nada mais justo do que ter um monde de consequências.
A Thessaly, ou Tessaliana, é uma personagem que aparece em Sandman no arco do Cuco (Um jogo de você). Ela é uma bruxa muito antiga e muito poderosa. Não explicam muito o que ela é, mas é dito que ela é uma bruxa muito antiga, que vem vivendo muito tempo, sempre fazendo trocas para viver mais. E ela é muito poderosa. Tanto que no arco final, ela protege a Lyta Hall com um feitiço. O que sabemos é que ela é muito antiga, muito poderosa, não é boazinha e que ela teve um caso com Morpheus entre “Um jogo de você” e Vidas Breves.
Então vamos para lá começar A Tessalíada (acho que é uma referência a A Ilíada).
Sandman Apresenta: A Tessalíada:
Essa história saiu em 2002, em uma minissérie de quatro edições. Com roteiro de Bill Willingham e arte do Shawn McManus.
A história começa com uma narração em off, comentando que existem várias criaturas poderosas que vivem entre nós. Deuses renegados, monstros mitológicos esquecidos e todo o tipo de troço. Mas que por algum motivo a Thessaly vive no nosso mundo. Logo somos apresentados ao narrador, um fantasma buscamante, responsável por perseguir uma presa,a Thessaly. A primeira edição faz esse setup até que a a feiticeira é atacada por filhas de Garm (uns cães gigantes da mitologia nórdica), derrota facilmente os cachorrinhos e encontra nosso amigo fantasma, que ela não consegue matar porque já está morto.
A busca:
O plano era o seguinte: os contratantes contrataram alguém para ir atrás da Thessaly. A ideia é que o buscamante fosse derrotado e interrogado para dar contar quem eram os contratantes e levá-la para uma armadilha. Mas durante a briga com os cães gigantes do demônio, ela fica sem armadilha de fantasma e zoa todo o rolê. Então o fantasma tem que ficar dando pistas, mas não pode contar quem eram os contratantes (código de ética).
Então a Thessaly parte por uma busca conceitual para poder encontrar seus inimigos. A teoria é que, já que todas as histórias são a mesma história, toda busca vai te levar, mais cedo ou mais tarde, aos seus verdadeiros inimigos.
Então os dois partem em uma busca por estações de metrô meta-narrativos, passando por metáforas e enfrentando desafios clássicos, como a Esfinge, por exemplo. Durante a viagem toda, várias referências à mortes e mitologias diversas.
Os vilões:
A Thessaly deduz quem são os vilões por conta das referências durante a busca (quest?). São quatro deuses da morte: Osiris, Morrigan, Plutão e Hela. Tem todo um diálogo onde ela explica as referências à mitologias grega, egípcia, irlandesa e nórdica. O diálogo é bem maneiro e eu não vou detalhar aqui.
Os vilões querem devorar uma alma antiga e poderosa para viver por muitos anos sem ter que ficar matando gente. Tudo indica que uma guerra está por vir no submundo, mas não explicam muito e não chega a ser importante. O que importa é: eles querem matar ela para devorar sua alma só porque sim. E ela vai para cima deles só para se vingar mesmo.
Na verdade tem uma discussão sobre se é vingança ou não.
Finalmente, no fim da terceira edição ela chega para enfrentar os vilões.
Porradaria:
Ela morre para os deuses da morte, mas morreu de mentirinha e volta para enfiar a porrada nos deuses da morte. No fim das contas ela é realmente tão poderosa que ninguém tem a menor chance contra ela. A última edição é um festival de deuses da morte sendo mortos.
A discussão é que o fantasma fica com um papo ambíguo de que “tudo isso faz parte do meu plano”. Isso porque ele tinha que levar a Thessaly e ela resolveu ir por conta própria, então deu certo.
No fim o papo é que ele acredita que ela tem uma queda por ele e que por isso, só por isso, ela não foi totalmente boladona com os deuses da morte, deixando dois deles vivos. No fim isso não importa, mas a história termina com um tom engraçadinho.
Na prática o fantasma é bem mala, mas ele quem põe a história para andar.
Curiosidade:
Em dado momento, ele comenta que sabe que a Thessaly deu uns pegas no finado Sonho. Mas ele também sugere uma atração incestuosa do Sonho pela Morte (com M maiúsculo). É curioso.
O que eu achei de A Tessalíada?
Eu gostei e reler A Tessalíada porque ela é bem descontraída. Ela tem um tom de “isso está tantos níveis acima na escala que você mal pode compreender”, mas tudo se resolve de jeitos bem pé no chão. Estamos falando de alguém matando divindades, mas isso é feito como uma aventurinha railstrip, com metáforas de metalinguagem bem legais.
É interessante pensar em como isso funcionaria no mundo. Pessoas muito poderosos viajando por campos metafóricos que a gente mal consegue compreender. Ela vai para uma estação de trem nas linhas alegóricas, segue o caminho enquanto o universo simplesmente a guia até seus inimigos, dando pistas de quem eles são. Para uma pessoa comum nesse mundo, ela simplesmente sumiu em um lugar e apareceu em outro, cheia de informação. Magia. Funciona, não pergunte como.
O traço também é bem simplificado e a Thessaly parece uma jovenzinha descontraída (que mata gente para caramba), então isso dá um contraste legal com o que está acontecendo na história. Eu gosto desse contraste.
De forma geral gostei.
Essa história saiu aqui no Brasil na Revista Vertigo da Panini, dos números 1 a 4. Infelizmente não é fácil de encontrar.
Então é isso. A Tessalíada é uma história bem legal que os fãs de Sandman precisam saber que existe. Eu curti, mas não vou dizer que é obrgatório e que você precisa correr atrás não.
Mas e você, sabia que a Thessaly tinha história própria? Ficou com vontade de ler?
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Um abraço.
E tchau.