THE JULIETTE SOCIETY (livro) – resenha sem spoiler

Salve, salve, seres humanos da terra.
Mais uma vez eu fui surpreendido pela melhor equipe desse lado de cá da internet. Essa semana o menino Nicolas, nosso homem dos animangás, apareceu com uma totalmente diferente. Ele resenhou o THE JULIETTE SOCIETY, um livro ‘livro adulto’ da Sasha Grey.

Daqui para frente o texto é dele.

THE JULIETTE SOCIETY – resenha por Nicolas Nunes

Oi pra você que gosta de sociedades secretas, e oi pra você que gosta da Sasha Grey. The Juliette Society foi a estréia literária da ex-atriz pornô mundialmente conhecida.

Escrever essa resenha foi um desafio por diversos motivos, primeiro pela autora: o preconceito do público com o trabalho dela é frustrante. Depois pelo próprio conteúdo do livro, não queria passar a impressão de que a obra é um “cinquenta tons de cinza” porque não é isso, não é apenas mais um título pornô, logo, para escrever sobre ele sem erotizá-lo precisei de foco e dedicação. E por fim me questionei como seria a aceitação do público. Enfim, tá aí: THE JULIETTE SOCIETY.

 

O livro conta a história de Catherine, uma universitária que cursa cinema e sonha com uma vida amorosa ideal ao lado de seu namorado, Jack. Pouco a pouco, divagações pessoais e fantasias sexuais vão instigando a vida pacata de Cath, até que seu namorado pede um tempo e ela se vê livre para materializar o que aturde sua mente. Na intenção de realizar uma dessas fantasias, ela conhece a Juliette Society. Um grupo que aparentemente se reúne apenas para realizar fantasias sexuais, mas que com o decorrer da história, mostra ser muito mais do que isso.

Sasha é de um refinamento descritivo incrível. Sua habilidade narrativa é admirável, ela consegue flexibilizar o estilo facilmente e transitar entre gêneros sem esforço. O início instiga porque choca. Num certo momento, ela apresenta um flashback e fala sobre seu eixo central, mas sem desvendá-lo. Relata suas emoções e impressões à respeito, ainda sem desvendá-lo. Por fim ela narra um sonho que descreve o flashback, mas encerra-o sem um final. Vejo nisso uma característica narrativa bem instigante, característica notável deste livro. Ela brinca com a estrutura narrativa, mescla dissertação com narração, deliberação com protesto, relato com fantasia.

O objetivo do livro não é contar histórias eróticas ou integrar o hall da literatura pornô. Do início ao fim, delibera-se sobre o quão sexual é a mente humana, qual o limite das fantasias sexuais, o que é a pornografia e como ela é encarada pela sociedade, e principalmente, relatar todas essas coisas sob o ponto de vista feminino.
Sempre vemos o florescer sexual masculino ser descrito e até cultuado, o feminino fica sempre com aquele toque de suavidade, de coisa singela. Sasha transgride isso. Mostra o quão louco, bruto e sedento o sexo feminino pode ser.

Eu classificaria a obra como um existencialismo sexual.

Mas não quero ser parcial, vamos às críticas. As primeiras de caráter técnico.

Na língua inglesa muitos autores se utilizam da 2ª pessoa do discurso em descrições, “Tu”. Já na língua portuguesa é comum ler descrições com sujeito indeterminado, “tudo que se vê”; “é percebida”. Faltou esse aspecto na tradução e por isso senti uma desnaturalização da língua portuguesa no livro, coisa que não é anormal em nosso
dia a dia. Ah, e não traduziram bem os pronomes, os demonstrativos, para ser mais específico.

Ela tenta apontar traços da personalidade e do comportamento das pessoas para embasar sua mordaz crítica social. Descreve coisas do tipo “de pés juntos, com voz trêmula, falou sem dar importância, olhar gelado”. Para mim soou mais como críticas de uma adolescente rockeira revoltada ou de uma pseudointelectual. Não é como se ela apresentasse as inconsistências da sociedade.

Num grande escárnio, ela descreve a maioria das pessoas comuns como abitoladas, hipócritas e estúpidas. Me lembrou as letras de System Of A Down e Marilyn Manson. Eu acho um saco esse tipo discurso. Ela também delibera sobre muita coisa dando a entender que conhece à fundo tudo o que critica. A gente sabe que não conhece.

Críticas não precisam estar solapadas em embasamento teórico sempre. Às vezes é só uma insatisfação ou uma experiência ruim, e isso não deixa de ser uma crítica. O tom irônico é constante, bem hipster.

 

 

No fim das contas eu achei o livro bem bom. Tá que o jeito hipster dela de falar me irritou, mas sua habilidade como escritora é fantástica. E além disso, a forma como ela abordou o tema do livro foi inédita para mim, considero The Juliette Society uma obra marcante por vários aspectos e um deles é porque mostra que tabus como o erótico, as fantasias sexuais e a pornografia devem ser discutidos sim!

Sasha Grey alcançou os olhos do público internacional primeiramente como uma das mais notórias estrelas pornô na história recente. Em 2009, aos 21 anos de idade, deixou o mundo da pornografia, mas continuou atuando em outros tipos de filmes. Participou de uma série da HBO, Entourage, de longa-metragens, The Girlfriend Experience, Smash Cut, e hoje em dia é uma DJ Internacional!

The Juliette Society foi publicado em 2013 em mais de 25 países, e já tem dois títulos sequenciais: The Janus Chamber e The Mismade Girl.

Deixo aqui uma matéria da Vice entrevistando a Marina, ou melhor, Sasha, e contando um pouco de sua história de vida e da sua relação com o erótico:

Termino essa resenha com uma frase que acompanha o leitor em boa parte do livro:

Qual o valor de uma experiência? E quanto ela custa?

 

Nota do Editor:

THE JULIETTE SOCIETY está disponível na Amazon. Se quiser, compre por esse link e ajude o site a crescer:

Então é isso, amigos de lugar nenhum. Curtiram?
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Saudações rubro-negras.
E vamos rever nossos tabus!