África – Homem Animal (#11 a #13) (parte 6)

Salve, salve, seres humanos da terra.
Continuando minha série de resenhas da série do Homem Animal, hoje eu vou falar das edições 11, 12 e 13, que se passam na África e muita coisa em comum. Na verdade, as edições 11 e 12 estão bem ligadas, a 13 bem pouco, mas encerra essa parte e um novo arco começa na 14. Então vamos lá.

Relembrando, na última edição, Vixen foi atacada por criaturas invisíveis e foi procurar o Homem Animal. Começou uma luta e o Homem Animal foi desintegrado. Essa história se passa diretamente depois, mesmo que pareça que tem um lapso de tempo. A ideia é esse mesmo.

Fora da África (Homem Animal #11):

Homem Animal 11 Fora da África

A história começa com os Aliens Amarelos trabalhando. Eles estão reconstruindo o Homem Animal e reconectando-o ao gabarito, que seria esse grande não-lugar onde as ideias dos animais existem e de onde ele tira os poderes (o tal campo morfogenético). Depois de refeito temos uma página recontando (mais uma vez) a origem do homem animal, mas com as palavras todas trocadas.

Então o Homem Animal simplesmente aparece na África, perto da Vixen. Eles estão perto do Kilimanjaro (lar do Fera B’wana), meio que sem saber por que estão ali. Enquanto isso, uma escavação está sendo feita por conta do tal Hamed Ali, o homem que não morre. Eles encontraram algo raro e valioso no coração da África e estão tentando pegar.

O Homem Animal e a Vixen ficam por ali de bobeira e, durante a noite, são atacados por um tanque em forma de jacaré e uma mulher de máscara aborígene(?) chamada Tabu, que também tem poderes de animais. Eles são capturados e presos por Hamed Ali em uma cela lacrada. Enquanto isso a escavação continua e atinge a nave dos Alienígenas Amarelos. Eles dizem que cometeram um erro ao reformular o Homem Animal e que todo o coninuum pode estar comprometido. Nos Estados Unidos, Ellen, esposa do Buddy, tem um lapso de memória, esquecendo que tem filhos e desaparece em seguida.

E assim termina a edição, com o Homem Animal capturado e preso, a nave sendo “invadida” e paradoxos afetando a Ellen.

Homem Animal 11 Fora da África

Origem Secreta (Homem Animal #12):

Homem Animal 12 Origem Secreta

O Homem Animal utiliza os poderes das bactéria dentro do próprio corpo e começa a se multiplicar, confundindo os inimigos, então ele e Vixen conseguem fugir e explodir as máscaras da Tabu. Enquanto fogem, eles vêm o fluxo de energia vazando da viajante e o Homem Animal decide entrar na cratera. Lá ele encontra um dos aliens, o outro está morto. Vixen, Tabu e Hamed Ali o seguem para a fenda.

O Alien conta ao Homem Animal que ele não sobreviveu à explosão da nave, e por isso ele foi conectado ao gabarito ganhando poderes animais (uma explicação mais razoável para os anos 80, bem similar à alteração que o Alan Moore fez no Monstro do Pântano). Mais importante que isso, ele explica que o continuum (a continuidade) foi fortemente alterado, mas ele, o Homem Animal, permaneceu o mesmo, sendo uma bolha de paradoxo. Como pode um personagem dos anos 60 ser um herói novato nos anos 80? Lembra que na primeira edição ele diz algo do tipo: “É como se eu tivesse ficado fora do mundo por todos esses anos.”. Pois é, foi isso mesmo que aconteceu.

Então, enquanto Vixen luta contra a Tabu (uma luta infinita), o Alien conecta o Homem Animal ao maquinário, fazendo com que as alterações nele se espalhem pelo continuum, readequando o mundo para aceitar a nova versão do Homem Animal. Agora, a sua nova origem (mostrada mais uma vez), se adéqua a sua persona mais jovem e as contradições foram eliminadas (mais ou menos). Por fim os aliens apagam o Hamed Ali e devolvem os heróis para o tempo-espaço. Os dois ficam com cara de quem não entendeu nada, mas a história continua.

Homem Animal 12 Origem Secreta

Explicando essa bagunça

Essa é uma edição difícil de entender se você não tiver as chaves de interpretação corretas. Eu vou tentar fazer uma explicação resumida.

Depois da Crise nas Infinitas Terras, um monte de heróis teve suas histórias recontadas (Superman, Batman, Mulher Maravilha, os heróis da Charlton, o pessoal da Família Marvel e vários outros). Todas essas novas origens eram contadas como se sempre tivesse sido assim. Inclusive é nessa época que a Mulher Maravilha vira uma heroína novata no nosso mundo (fase do George Perez) e por isso a origem da Liga da Justiça precisa ser recontada inserindo a Canário Negro como fundadora. Então, o que o Morrison faz nesse arco é contar esse processo de remodelagem como parte da história. É uma meta-história sobre essa virada editorial da DC no pós-crise.

Para o Morrison, nada na cronologia é descartado. Não é como se o multiverso pré-crise nunca tivesse existido. Eles existiram, a crise também existiu e o que lemos agora é a consequência disso. Isso vai permear toda a obra do Morrison por toda a carreira. Lá em Multiversity (2014), ele vai fazer menção à primeira crise (1965). Além disso, ele usa a metalinguagem para fazer referência ao próprio editorial. Os Aliens Amarelos são isso, os editores fazendo suas gambiarras para que o continuum (a continuidade) continuem funcionando.

Hora do Fera (Homem Animal #13):

Homem Animal 13 Hora da Fera

Essa história se passa logo depois da edição 12, mas já deixa para lá (um pouco) toda essa coisa de metaliguagem. Os Aliens Amarelos se foram e o Homem Animal já está ligado ao continuum novamente. Porém, uma coisa importante da edição anterior que eu não comentei é que, um dos aliens conta que eles são os responsáveis pelo gabarito e por todos os que se conectam a ele. De acordo com ele, eles quem deram para a humanidade o Totem Tantu (que dá os poderes da Vixen) e o Capacete do Fera B’wana. De certa forma, os Aliens Amarelos estão ligados aos heróis com poderes animais.

Essa edição começa com cenas de forte repressão contra os movimentos negros na África do Sul (na época em que o quadrinho foi lançado ainda havia Apartheid), mas mostra também que as informações não chegam fora do país. Enquanto vemos cenas de violência policial contra os negros fotografadas por um fotógrafo anônimo, vemos a televisão dando os “dados oficiais” de que não houve violência.

Depois que a Vixen vai embora, O Homem Animal encontra o Fera B’wana e aceita acompanhá-lo no ritual que ele deve fazer para encontrar seu sucessor. Rola um ritual de magia com drogas (o Morrison adora essas coisas), e o Fera B’wana atual (que era um americano) descobre seu sucessor.

Então descobrimos quem é o fotógrafo que está tirando as fotos que denunciam a violência do regime de apartheid. É um rapaz negro chamado Dominic Mndawe, que está tentando mandar suas fotos para fora do país. Ele acaba sendo preso, espancado e quase assassinado, mas é salvo pelos heróis. O Fera B’wana americano toma uma lição de moral do rapaz, mas passa o manto para ele.

Por fim, eles conseguem impedir que um massacre contra os negros aconteça, derrotam os policiais e conseguem que as fotos cheguem ao Planeta Diário. Além disso, agora Dominic é novo herói da África, não mais como Fera B’wana, mas agora ele se chama Fera Liberdade.

Fera Liberdade herói da África do Sul

Explicando:

Esse conceito de ter um homem branco, que viaja até um local distante, descobre uma cultura e se torna o melhor deles, virando o campeão local, foi muito comum por muito tempo na cultura pop (Punho de Ferro, Doutro Estranho, Tarzan, Adam Strange, etc..), além de ser claramente racista. Enquanto o Morrison escrevia aquele primeiro arco, ele deve ter sacado que o Fera B’wana era um desses personagens (afinal ele é um americano que foi para a África se tornar o campeão local), e entendeu que essa é uma dessas coisas que não funcionam mais nessa nova era dos quadrinhos.

Então foi por isso que eu coloquei essa edição junta nesse post. A criação do Fera Liberdade é a última cirurgia do continuum feito nessa leva. Parece que não, mas essa edição está muito conectada às duas anteriores (além do fato de que os três heróis estão conectados pelo tipo de poder).

Concluindo

Nessas três edições, ele termina o reboot do Homem Animal, reinsere a Vixen no jogo (ela estava esquecida desde a Liga da Justiça Detroit) e resolve o problema Fera B’wana, que ele mesmo tinha desenterrado no primeiro arco do Homem Animal.

O que eu achei dessa fase na África?

Eu adoro essas edições. Até então essa coisa dos Aliens Amarelos trazem toda a metalinguagem que eu adoro (e vai vir mais) e fazem uma baita história, com muito ação e muita filosofia maluca também. Eu curto muito mesmo. E essa edição 13 fala de racismo e violência policial, o que me bateu muito forte, porque são temas que não morreram. Eles ainda estão aqui.

E se você acha que existe essa coisa de “Quadrinhos sem política”, você deveria ler mais e com mais atenção.

Se você acha que a maluquice acabou. As coisas vão ficar ainda mais estranhas. Você não pede por esperar.

Toda a fase do Morrison saiu em 3 encadernados pela Panini. Essas duas edições estão no segundo encadernado que você pode comprar pela Amazon clicando aqui.


Então é isso, esse foi o sexto post dessa série das histórias do Homem Animal. Eu adoro essa fase.
E você, já tinha lido? Achou tudo uma maluquice?
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Um abraço e tchau.

Vulto

Desprezível.

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